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terça-feira, 24 de abril de 2012

A PISTOLAGEM NÃO ESTÁ DE VOLTA, ELA NUNCA SAIU DO MARANHÃO



Chocados com o brutal assassinato do colega Décio Sá, alguns companheiros de imprensa cunharam a  frase, depois reafirmada pelo senador licenciado João Alberto de Souza (PMDB), de que " a pistolagem está de volta ao Maranhão". Na verdade existe um grande equívoco nessa afirmação, pois ao meu ver e os fatos provam, a pistolagem nunca foi embora do Maranhão.

Não sejamos hipócritas, o esquema da morte por encomenda continua cada vez mais ativo e recrutando pessoas  que fazem do assassinato uma profissão. Não é difícil, todo mundo sabe a facilidade que se tem na contratação de assassinos.

Enterro de Raimundo Borges em Buriticupú
Homens contratados para matar estão em toda parte, prontos para  tirar vidas humanas. São pessoas frias, calculistas, que lucram com o sofrimento alheio. Eles movimentam seu negócio em qualquer lugar. E contra qualquer tipo de pessoa numa terra fértil para a pistolagem, o Maranhão.
Durante algum tempo se ouvia falar muito em Imperatriz, cidade que chegou a ganhar a triste pecha de “Capital nacional da pistolagem”. Hoje talvez se possa dizer que essa alcunha migrou para São Luís.

Flaviano Pinto
Na região central do Estado (Presidente Dutra, Dom Pedro e demais municípios) assim como no resto dele, esse tipo de crime sempre existiu, mas constata-se que agora evolui cada vez mais. Nessa evolução não se pode deixar de citar a aceitação da sociedade, hoje quase como que culturalmente, quando mantém ou contratam verdadeiras milícias para recuperar objetos roubados ou perseguir e matar bandidos de pequena ou média periculosidade. 

No Maranhão, em quase todos os municípios existem crimes de pistolagem. 

Em 2010 tombou o líder quilombola Flaviano Pinto. Ano passado, outra liderança quilombola, José da Cruz. Os dois foram vítimas da pistolagem em Pirapemas-MA.

José da Cruz
Advogado João Ribeiro
Este ano, os assassinatos começaram em janeiro e os que mais repercutiram foram o do ex-prefeito de São José dos Basílios Chico Riograndese em Dom Pedro, o dos irmãos empresários José Mauro Alves de Queiroz e José Queiroz Filho em São Luís, do Advogado João Ribeiro em Gonçalves Dias e este mês de abril, dia 14 o assassinato do militante camponês Raimundo Borges, popularmente conhecido como “Cabeça”, morto no assentamento onde morava, em Buriticupu.entre outros.
Fora os de menor repercussão contra pessoas desconhecidas ou sem nenhuma expressão política.  

Em Imperatriz nem se fala, foram tantos nos últimos tempos, mas lembrando dos mais recentes, o do jovem empresário Sands Emanuel  e o do Agropecurista Braz Cabrini, embora havendo o componente de latrocínio mas com mortes por pistoleiros sob encomendada.

Agropecuarista Braz Cabrini
Todos essas execuções são a  constatação de que a pistolagem  e os pistoleiros permanecem tão presentes quanto à evolução do aparato de segurança pública para combater as diferentes formas de crimes.

Sands Emanuel
Em pleno século XXI, com o país vivendo o regime de plena democracia, com profundas transformações sociais e a economia avançando em todos os sentidos, mesmo assim,o crime de encomenda abate seres  humanos não apenas no Maranhão, mas em toda parte do país.

A pistolagem é um tema tão forte na história do Brasil que inúmeros estudiosos já se debruçaram sobre ele, abordando as diferentes vertentes e motivações que envolvem esse tipo de crime. E cada vez mais, firma-se no campo de estudos sobre a violência no Brasil, o entendimento de que não é possível tratar dos fenômenos a ele relacionados sem levar em conta as valorações produzidas por aqueles que participam dos contextos violentos.
 
Enterro de Chico Riograndense em Dom Pedro-MA
O que move toda essa indústria? Como cumprem suas missões? Quanto cobram pelo serviço sujo? Não se sabe ao certo, mas em tese aceitam qualquer encomenda. Qualquer um pode ser vítima deles. Basta pagar o preço combinado.

E o que leva a tudo isso? A falta de valores morais é um fator preponderante. Mas a certeza da impunidade é o maior incentivador para interromper brutalmente muitas vidas e deixar muitos órfãos ou  lares destruídos.
 
É um tipo de crime de difícil combate. A pistolagem opera numa engrenagem complexa em que o aparato estatal dificilmente consegue chegar aos mandantes e executores. Mostra que, com a "profissionalização" da pistolagem, os crimes passaram a ser mais "sofisticados". Além do mais reina um "código de honra", pelo qual a "lei do silêncio" prevalece como uma barreira quase instransponível entre o contratante e o pistoleiro. Na hipótese da prisão, as autoridades precisam de muita perícia e inteligência para chegar a tais matadores. Mesmo assim, outros estão prontos para continuar o "negócio sanguinolento".
Décio Sá
O crime que acordou a todos nós no momento foi o praticado contra Décio Sá, um jornalista polêmico, homem ligado ao grupo político dominante no Estado, o que faz até o senador João Alberto talvez pensar noutra "operação Tigre", tal qual a  perpetrada por ele quando foi por alguns meses governador na década de 1990.
Mas não é isso o que se quer. Chega de soluções ao arrepio da lei que acabam por sair do controle e inocentes tombando, como foi o caso dos irmãos Ildean e Ildeneio Noleto, na mesma tristemente famosa Operação Tigre. 
Queremos  uma parelho policial preventivo, que aja com ciência na investigação para prender os pistoleiros e desbaratar o sindicato do crime. Uma Justiça ágil, para punir com todos os rigores que as leis nos facultam, desencorajando assim a impunidade que ora assola o nosso Maranhão e grande parte do país.

Fonte: Blog do Josué Moura

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